Tracy nasceu mulher e quis curar-se disso. Tira aqui, acrescenta ali, mais a testosterona que lhe deu barba, mais as leis do estado de Oregon (EUA) que são modernaças, e ei-la, ele: Thomas. Mas não completamente: guardou útero e ovários. Thomas casou com Nancy. Quiseram filhos, naturalmente na modalidade de apoio externo. Azar, Nancy não pôde. Thomas lembrou-se, então, que já foi Tracy. Disse o que nem em todos os casais se pode dizer: "Se não engravidas tu, engravido eu." De novo, Tracy, Thomas está grávido. Tecnicamente está grávida, mas para entrevistas dá mais jeito estar grávido. Estou grato ao grávido pelo pretexto desta crónica, é uma história de liberdade, onde cada um faz de si o que quer. É uma história de liberdade, mas a prazo. Indo a gravidez em cinco meses, tem mais quatro. Finda as contas naturais (é, a Natureza pode ser toureada mas não em tudo), haverá alguém que nada teve a ver com isto mas sofrerá isto. Nasce e cala-te.
Ferreira Fernandes, in DN de 2008.03.28
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