Na segunda-feira acontece o Dia Internacional da Saúde Mental. Não concordo nada com aquela ideia de que o Natal devia ser todos os dias. Muito pelo contrário, tem a magia que tem, porque só acontece uma vez por ano, e com a idade e o tempo a passar cada vez mais depressa, se calhar até devia passar a bienal. Já o dia da Saúde Mental não fazia mal nenhum que fosse de celebração diária obrigatória. Todos os dias do ano, todos os anos, desde o berço até à morte, a bem do próprio, dos outros, da nação e do planeta.
Aldo Naouri, o pediatra e psicoterapeuta francês, atribuiu a culpa da crise económica aos adultos bebificados, aqueles que nunca cresceram, ou seja, nunca abandonaram a ideia de que são o centro do mundo, e a convicção de que os seres humanos que o povoam são criados ao seu serviço? Pois é, a saúde mental não é assunto de manicómios, nem de hospitais, nem tão-pouco de indústria farmacêutica, mas de educação, de afectos, de economia, de política, ou seja, de pessoas. Olhá-la como uma disciplina especializada de seja o que for é não compreender que sem ela o mundo depressa se transforma num caos. O Dia da Doença Mental é outra coisa.
Também se engana quem julga que Saúde Mental é sinónimo de ausência de sofrimento mental. Esse é condição essencial de sabermos que estamos vivos, e de sabermos que vamos morrer. Sem volta a dar. Não é a tristeza, o medo, a inveja, a raiva, a sensação de confusão que nos põe doentes, mas a incapacidade de reconhecer estes sentimentos, e de lidar com eles. Não é a vida que nos faz perder o norte, mas a falta de sentido para ela. Mas continuamos a preferir uma doença «física» a uma «psicológica», tomar comprimidos a pensar de onde vem aquela ansiedade que não nos larga. Julgamos que por pensar na loucura corremos menos riscos. Enganamo-nos.
Isabel Stilwell
in Destak, 9 de Outubro de 2009
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