Afinal, no último Mundial da África do Sul havia um gato escondido com o rabo de fora. Cristiano Ronaldo, mal o Mundial acabou, trouxe ao Mundo a boa nova: tinha nascido há já 18 dias uma criança fadada para os mais altos voos. É certo que levará o seu tempo se quisermos pensar que essa criança poderá ser o Messias da nossa Selecção, mas é verdade que ao baptiza-la de Cristiano Ronaldo Júnior o craque do Real Madrid já sonha em vê-la a marcar golos decisivos, mesmo que não sejam tão caricatos e inúteis como o "golo de mochila" com que o pai estreou e se despediu deste Mundial em África.
Aqui está um caso em que os prognósticos só podem realmente ser feitos depois do jogo. Obrigado a manter o segredo deste rocambolesco nascimento, podemos agora dizer que as emoções da sua primeira paternidade seguramente terão abalado o rendimento do jogador, provavelmente com uma intensidade superior ao impacto emocional que poderá ter causado a presença da nova namorada numas farras em Las Vegas.
Ser pai é seguramente marcante para qualquer pessoa e por mais frio e racional que seja o temperamento de Ronaldo, ninguém acredita que ele tenha sido capaz de tanta insensibilidade que lhe permitisse manter a concentração indispensável nos dias que antecederam e se seguiram à notícia do nascimento do seu primeiro filho, ocorrida a muitos milhares de quilómetros sem a sua presença e até sem qualquer possibilidade de falar dele.
Independentemente da influência que este Júnior possa ter tido no comportamento do capitão da Selecção Nacional, importa-me salientar os maus exemplos que se começam a multiplicar de figuras públicas de referência mundial. O exemplo de ser pai nas condições em que Ronaldo aparentemente foi poderão fazer mais pela disfunção da ideia de casal tradicional do que a própria aprovação do casamento gay ou a pretensão dos casais homossexuais poderem adoptar filhos nas mesmas condições que os casais heterossexuais. A ideia de que qualquer pessoa com dinheiro ou com fama pode "negociar" um filho que depois "gerirá" como um qualquer empresário gere a carreira de um futebolista, representa uma grave entorse aos princípios e valores geralmente associados à concepção e educação dos filhos.
Se for verdade que a mãe da criança, conhecida ou desconhecida do jogador, abdicou dos seus direitos em troca de dinheiro, é preciso ter coragem para dizer que a actuação de Cristiano Ronaldo, na linha do que já aconteceu na África do Sul, não foi uma exibição exemplar.
Manuel Serrão, in JN de 07/07/2010
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