"Vítor Baía e Pinto da Costa fazem parte da lista dos cem grandes portugueses. Ora, esta coisa da eleição dos cem grandes portugueses faz de nós todos pequenos portugueses ou, no máximo, portugueses médios ou assim-assim e essa é a maior das injustiças. Grandes portugueses são aqueles que acordam todos os dias às seis da manhã, para tomarem um banho a correr se quiserem ter água quente para dar banho também aos filhos que já nasceram numa maternidade espanhola e que é preciso agasalhar porque estudam numa escola sem aquecimento aonde chegam depois de duas horas num autocarro comprado em segunda-mão a um sucateiro alemão. Grandes portugueses são aqueles que apanham sete autocarros para chegar ao emprego a que nunca faltam apesar dos caprichos dos STCP ou da Carris, tanto faz, e cumprem o horário de entrada mas flexibilizam o de saída e não recebem horas extras porque vivem sob a ameaça de deslocalização da empresa para o extremo-oriente. Grandes portugueses são aqueles que enchem o metro, os comboios e os autocarros no regresso a casa aonde todos os dias fazem o milagre da multiplicação dos pães que dividem pela família antes de tentarem esquecer tudo em frente à televisão que lhes explica que é muito bom ser-se pobrezinho e que os ricos são todos muito infelizes. Grandes portugueses são aqueles que, ao fim de mais um dia destes, têm uma paciência inesgotável para os filhos que sentam no colo, enchem de mimos e educam para também eles poderem ser, um dia, grandes portugueses. Como Vítor Baía ou Pinto da Costa."
Jorge Maia, in O Jogo, 2007. Jan. 12
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